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Autor da Reforma Administrativa tem milhões em paraíso fiscal e lucra com dólar alto

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Foto: Reprodução

Alguns meses atrás o atual ministro da economia, Paulo Guedes, citou aspectos que considerava primordiais para a avaliação do desempenho de servidores públicos, que planeja com a Reforma Administrativa (PEC 32). Um dos itens citados pelo então ministro é a “Confiança”. Paulo Guedes disse que era preciso avaliar se o servidor é confiável ou se é um ‘vazador’ para decidir se o servidor merece ter estabilidade ou ser demitido. “Gente muito experiente vai avaliar se ele joga bem em equipe, se ele é confiável ou se é um dos vazadores gerais que está sempre vazando coisas”, disse, explicando que os que não atenderem aos “atributos necessários” deveriam “ser desligados ao longo do tempo, por avaliação”.

Um ano depois das declarações, feitas durante um live, é justamente um vazamento de dados em escala mundial que torna público o que Guedes mantinha escondido do público: o Ministro da Economia do Brasil, mantém milhões de dólares no exterior por meio de uma empresa criada em um paraíso fiscal, o que faz com que ele fique mais rico, ao passo que sua política econômica turbina a alta do dólar. A revelação indesejada decorre da investigação jornalística que deu origem à série de reportagens Pandora Papers, iniciada no domingo (3), dia seguinte às mais de duas centenas de atos no Brasil que defenderam o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e repudiaram o ministro Paulo Guedes.

É uma colaboração jornalística com cerca de 600 profissionais em mais de 100 países organizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. São milhares de empresas offshores investigadas a partir de dados entregues por fonte anônima ao consórcio faz dois anos. A maioria das empresas foram abertas nas Ilhas Virgens Britânicas. Veículos como El País, Washington Post, Le Monde, The Guardian e BBC participam da investigação. No Brasil, ela envolve o Metrópoles, a Agência Pública, a revista piauí e o site Poder 360.

As Offshores são empresas em paraísos fiscais, criadas por pessoas ricas para economizar impostos e ‘proteger’ recursos financeiros. Não são proibidas no Brasil, porém precisam ser declaradas à Receita e comunicadas ao Banco Central quando ultrapassam 1 milhão de dólares. Ocupantes de cargos públicos, no entanto, estão proibidos de mantê-las, caso do ministro da Economia e do presidente do BC. Além disso, parece eticamente intolerável que ocupantes de cargos que ditam a economia do país mantenham dinheiro em paraísos fiscais, o que indica desconfiança com o quadro econômico nacional, e ainda possam lucrar a depender das decisões que tomem.

Não existem notícias de que servidores públicos possam estar por trás do vazamento dos dados, porém é razoável supor que o caso se enquadra no rol de informações que Guedes gostaria de ver sendo protegidas por um círculo de confiança e que o faz ter tanto empenho numa ‘reforma’ administrativa que mantenha servidores ‘confiáveis’ sob controle.

Após o vazamento das informações de que não só o ministro da Economia, como também o presidente do Banco Central, Roberto Campos, mantém contas milionárias no exterior, parlamentares da oposição defenderam a investigação do caso e o afastamento imediato de ambos dos cargos que ocupam.

Em fevereiro de 2020, com a cotação do dólar a R$ 4,35 e crescendo, Paulo Guedes afirmou: “O câmbio não está nervoso, [o câmbio] mudou. Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada. Pera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeiro de Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu”, disse.

Como se viu, enquanto mandava as empregadas domésticas para Cachoeira de Itapemirim, o ministro da Economia mantinha em segredo parte de sua fortuna engordando no exterior com as sucessivas altas do dólar. Caso o dólar estivesse cotado a R$ 1,80, a bolada de Guedes encolheria: despencaria dos atuais 51 milhões de reais para R$ 17,1 milhões. Em 2020, o real foi a sexta moeda no mundo a mais se desvalorizar frente ao dólar e, em 2021, o Brasil já ocupa a quarta posição entre as moedas mais desvalorizadas, para felicidade de Paulo Guedes, o ministro que chamou os servidores públicos de “parasitas”, que defende “privatizar tudo” e que quer aprovar uma ‘reforma’ administrativa que lhe assegure funcionários “de confiança” no setor público.