Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Mais de 50% dos servidores do judiciário já sofreram algum tipo assédio

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Em maio, um juiz recebeu aposentadoria compulsória após ser acusado de assediar ao menos três mulheres

Uma pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revela que 56,4% dos servidores do poder judiciário afirmam já terem sofrido algum tipo de assédio no local de trabalho. Destes, 74% apontam que os assediadores ocupavam cargos superiores aos deles. Leia a Pesquisa (AQUI)

Outro dado do estudo também chama a atenção: 90% das vítimas não denunciaram o crime, por motivos como vergonha de se expor, medo de sofrer represálias e por achar que não daria em nada. Um cenário quase irônico. Em um ambiente onde o dever é fazer justiça, ainda tem muita gente que não acredita nela.

“A dificuldade é de conseguir provas. Então, a pessoa que passa por isso, geralmente, não tem testemunhas. E a pessoa fica com receio de levar a notícia para frente, só com base na sua palavra”, aponta a desembargadora Salise Sanchotene.

Salise foi a relatora do processo administrativo disciplinar que puniu o juiz Marcos Scalercio, em maio de 2023. Ele é acusado de assédio e importunação sexual contra pelo menos três mulheres, em São Paulo.

Uma delas, cliente do advogado José Lúcio Munhoz. “Era uma funcionária do tribunal. Ela sentou na cadeira, cadeira com braços, e ele foi para cima dela, segurando o braço dela junto aos da cadeira, e se aproximou, tentando beijá-la. Ela, assustada, se afastou para trás. Ele continuou indo, indo, até que ela colocou a mão do rosto dele e o empurrou com força”, relata o defensor.

O juiz foi punido com a aposentadoria compulsória. “É o máximo de pena que, no âmbito administrativo, a gente pode aplicar a um juiz. Estamos dizendo, com decisões como essa, que não se tolera mais assédio e discriminação no poder judiciário”, destaca a desembargadora.

Em São Paulo, o Tribunal de Justiça disponibiliza um canal de denúncias, conforme explica o coordenador da Comissão de Prevenção de Assédio no TJ-SP, Irineu Jorge Fava. “Para que a gente tenha um ambiente de trabalho sadio, não tóxico. Por quê? Porque o assédio sexual, moral, e a discriminação, ela gera um impacto emocional muito forte no funcionário, e isso reflete na produtividade, reflete na qualidade do trabalho, isso reflete na qualidade de vida do próprio funcionário”.

A intenção é evitar que casos como a de uma servidora do judiciário, em São Paulo, se repitam. Ela conta que tudo começou depois que um novo juiz assumiu o cartório eleitoral onde ela trabalhava.

“Ele começou a me perseguir. Tudo que eu fazia, por mínimo que seja, uma vírgula, ele fazia eu fazer de novo”, ela lembra.

Meses depois, o juiz alegou que havia uma denúncia anônima contra ela e que, por isso, a servidora precisaria se afastar. A implicância virou castigo. “Eu fui tirada do cargo. Ele colocou quem ele queria no meu lugar”, ela conclui.

Mas, para o advogado de uma das vítimas do recém-aposentado Marcos Scalercio, o maior desafio é mudar a conduta de quem tem o poder nas mãos. “O juiz está em uma sociedade complexa como a nossa, em uma posição de defender os segmentos mais fragilizados, e jamais se espera que um magistrado venha fazer o oposto disso, usar do seu poder para, justamente, se beneficiar dessas pessoas mais fragilizadas”. 

Fonte: sbt